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quinta-feira, 1 de março de 2012

A quem interessa a Guerra Fria em São Paulo? - Oportuno, lúcido e bem escrito artigo de Fernando Borgonovi -Portal Vermelho

A quem interessa a Guerra Fria em São Paulo? - Portal Vermelho

Permitam-me abusar da obviedade, mas abro estas linhas esclarecendo que, em 2012, São Paulo elegerá um prefeito. E mais: São Paulo só quer e só precisa mesmo disso: um prefeito.


Repor o óbvio se faz necessário diante do contorcionismo que se tem visto desde que José Serra resolveu, mais uma vez na undécima hora, entrar na corrida pela prefeitura. Onze em cada dez analistas se apressam a vaticinar que a disputa está fadada a ser "nacionalizada" e "polarizada entre PT e PSDB", pois seria uma espécie de "terceiro turno" da presidencial.

Ninguém desconhece a importância política da eleição paulistana. É a maior cidade do país sob todos os aspectos - econômico, populacional e eleitoral - e é berço das maiores forças políticas do país, da situação e da oposição.

Mas daí a concluir que a agenda nacional predominará na eleição vai um bom pedaço. E, pior e mais grave, as forças de esquerda e progressistas não enxergarem que a tal "nacionalização" só serve ao próprio Serra, parece-me erro grotesco de leitura política.

Examinemos melhor os fatos.

Uma cidade real, com problemas concretos

Primeiro, a cidade de São Paulo padece de problemas gravíssimos e que são enfrentados de maneira tímida pelo poder municipal. No último Datafolha de 2011, chamam a atenção alguns dados de percepção dos moradores sobre a cidade. Com notas entre 0 e 10, vê-se que a qualidade de vida é a preocupação primeira da população.

A acessibilidade para deficientes recebe a nota mais baixa entre os quesitos pesquisados, com média de 2,7. Áreas e equipamentos de esporte e de cultura também são reprovados pela maioria, notas 3,9. Eventos e atividades para jovens e para a terceira idade são criticados, 3,6 e 3,4, respectivamente.

Problemas mais estruturantes também aparecem com força. A segurança recebe apenas 3,8 de nota média, a quantidade de hospitais públicos 3,9, o trânsito 4,8 e a limpeza urbana, 5.
Da pesquisa feita pelo instituto Nossa São Paulo, basta um dado estarrecedor para evidenciar o tamanho do desafio que teremos no debate eleitoral: 56% dos moradores da cidade, se pudessem, se mudariam.

Ou seja: será possível que um município com tantos problemas a serem resolvidos e com tanto potencial econômico e para se desenvolver pode se dar ao luxo de fazer da campanha eleitoral municipal um "terceiro turno" da nacional? Ou ainda, muito embora haja o empenho de PT e PSDB em "nacionalizar" a disputa, será que se lembraram de combinar com o povo? Desconfio que não.

Não morder a isca de José Serra

O maior beneficiário da "nacionalização" e da "polarização" da eleição paulistana tem nome, RG e CPF: José Serra. Essa espécie de Guerra Fria que fossiliza a política por essas plagas tem servido ao propósito de levar a vitória para o campo conservador, pelo simples fato de que aqui a força hegemônica não é o PT, mas sim o PSDB.

Daí que o movimento feito inicialmente por Kassab, ao se aproximar do campo organizado em torno do governo Dilma, foi e é tão importante. Consolidar e explorar essa fissura seria vital para almejar vencer na capital e no estado, em 2014.

No entanto, a falta de convicção para fazer tal aposta proporcionou que a candidatura Serra reagrupasse, ao menos momentaneamente, Kassab e PSDB. Mas não se pense que existe uma recomposição simples e automática entre os objetivos de Kassab, Serra e Alckmin. Duas provas disso são as diversas alianças que o PSD subscreve com forças que compõem o campo Dilma em todo o estado e que persistem, apesar da nova configuração na capital, e o racha interno no PSDB quanto às prévias.

A "nacionalização" serve ainda mais uma vez a Serra por mantê-lo no jogo - inclusive para a disputa presidencial - em caso de vitória. Afinal, a ele coube o papel de ir para o "sacrifício" em 2012 para reagrupar o campo conservador, impedir que o PSD fosse definitivamente para os braços do PT e, principalmente, garantir o enclave oposicionista na cidade.

Ademais, o discurso de evitar uma concentração excessiva de poder nas mãos de um partido, no caso o PT, já pegou em São Paulo em eleições passadas, dando a vitória aos tucanos.

Vê-se que cair nessa esparrela, já no primeiro turno, é jogar no campo do adversário.

O PCdoB tem compromisso com a cidade

Desde o início, quando foi colocada a candidatura de Netinho de Paula, o PCdoB tem demonstrado compromisso com o povo de São Paulo e não com travar a luta política apenas para demarcar posição. Por isso, Netinho tem percorrido a cidade junto com a militância comunista, se aprofundado nos problemas que afligem os bairros mais pobres e se esforçado para elaborar propostas que os contemplem.

Outra posição, de ir a reboque de outros projetos ou de reforçar ainda mais a polarização que nada traz a São Paulo, talvez fosse mais cômoda, especialmente para quem compreende a política como uma eterna Guerra Fria.

Mas isso pouco ajudaria as 11 milhões de almas que vivem e constroem, diariamente, a maior cidade do Brasil.

Fernando Borgonovi é secretário de Comunicação do PCdoB-SP

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