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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Concepções Sindicais - ALTAMIRO BORGES - O Tradeunismo

A luta entre concepções no interior do sindicalismo não é nova. Desde o surgimento dos
sindicatos que ela se manifesta - ora com mais, ora com menos intensidade, dependendo de vários fatores. Alguns a encaram como algo extremamente negativo, que atrapalha a unidade dos trabalhadores - já que as várias correntes se digladiam numa luta intensa. No nosso entender, essa disputa não é nem positiva ou negativa. Ela é natural. Faz parte da própria natureza dos sindicatos, que procuram representar o conjunto dos trabalhadores.

Pode-se dizer que o sindicato é um campo fértil de idéias e de luta entre as várias propostas
existentes em seu meio. Querer impedir essa disputa de concepções, de forma artificial, fere a
própria essência do sindicato e representa a sua negação, resultando num tipo de partidarização.

Mesmo para combater o tendencismo, que seria o extremo negativo da disputa que é sempre
natural, é necessário democratizar as discussões no interior dos sindicatos. Só dessa maneira se
contribui para a educação da classe, que, na polêmica, vai se posicionar sobre as propostas que mais lhe interessam. A luta pela hegemonia, que está presente em toda vida social, manifesta-se com força nos sindicatos e não se pode temê-la ou nega-la.

Tradeunionismo
Uma das primeiras concepções a ganhar destaque no meio sindical foi a tradeunionista. O
próprio nome indica que ela surgiu no interior das trade unions da Inglaterra - e isso no final do
século passado. Fatores de ordem econômica e política explicam o florescimento dessa corrente
sindical. Num primeiro momento, as trade unions se caracterizaram pela combatividade e heroísmo de seus integrantes - que atuaram na clandestinidade, sofreram violentas perseguições e dirigiram as primeiras greves do novo sistema social. Através de memoráveis lutas, ganharam respaldo e conquistaram a legalidade.

Entretanto, a Inglaterra, como “berço do capitalismo”, passou por intenso desenvolvimento
econômico. Enquanto no restante dos países ainda imperava o modo de produção feudal, baseado no atraso do campo, a burguesia inglesa já passava pelo progresso gigantesco da revolução industrial. Acumulando capital, essa nova classe passa a interferir no mundo. Inicia-se a fase caracterizada por Lênin como imperialismo, um estágio do capitalismo. A burguesia inglesa internacionaliza o seu capital, em busca de inúmeras vantagens.

Nos países atrasados, os grupos industriais da Inglaterra podiam contar com uma mão-de-obra
barata, desorganizada. Na matriz, as trade unions já questionavam a exploração capitalista.
Nesses países coloniais também havia a vantagem da fartura de matéria-prima e a própria
existência de um mercado de consumo ainda virgem. Na Inglaterra, a disputa por fontes de
matéria-prima e a concorrência na venda das mercadorias aumentam as dificuldades dos
empresários. Além disso, nos países atrasados era mais fácil dirigir os governos, que serviriam
como testas-de-ferro para implantar políticas de interesse do capital inglês - via subsídios,
construção na infra-estrutura necessária etc.

Por último - e o que mais importa na discussão sobre a origem do Tradeunionismo -, a
exploração dos países coloniais permitia à burguesia inglesa obter altas taxas de mais-valia. Esse recurso extra vai possibilitar uma certa distribuição dos lucros para parcelas do operariado inglês.

Desta forma, a burguesia da Inglaterra podia amainar os conflitos na matriz, deslocando-os para as suas colônias. Essa distribuição de “migalhas”, obtidas em decorrência da super - exploração nos países atrasados, vai resultar no surgimento de uma parcela de trabalhadores com maior poder aquisitivo na Inglaterra - que Engels chamara de “aristocracia operária”.
Essa parcela “aburguesada” de trabalhadores é que vai ser responsável pela mudança de
comportamento do sindicalismo inglês. Aos poucos, nasce e se consolida uma nova concepção
sindical - o Tradeunionismo, que é uma corrente típica dos países mais avançados do capitalismo.

Nos setores de ponta da economia, que mais preocupavam e que foram beneficiados pela
burguesia, começam a se manifestar opiniões em defesa do próprio sistema capitalista. Nas
mesmas bases sindicais, que tiveram papel de relevo nas primeiras lutas contra a exploração,
surgem lideranças que justificam o saque das nações dependentes. O pragmatismo é uma das
principais características dessa concepção sindical. Com o objetivo de manter as “migalhas”, o
Tradeunionismo nega a luta de classes, deixa de questionar a própria lógica exploradora do capital.

Para ele, o que importa é o crescimento do capitalismo, sua difusão pelo mundo enquanto sistema imperialista. Para garantir esse avanço, essa tendência procura suavizar os conflitos. Ela prega abertamente a conciliação de classes. Seu interesse é unicamente pela conquista de pequenas melhorias imediatas. Daí sua pregação economista, que rejeita qualquer confronto político com o sistema em vigor. Em decorrência dessa concepção, o Tradeunionismo se contrapõe às greves, procurando evitá-las. A central sindical inglesa, a TUC (Trade Unions Congress), hegemonizada por essa corrente, vai inclusive condenar inúmeras paralisações de trabalhadores, colocando-se ao lado do patronato. Para obter pequenas vantagens econômicas, as trade unions vão priorizar as negociações, em detrimento da pressão organizada das bases sindicais. Isso resulta numa prática cupulista, que afasta as entidades sindicais das massas assalariadas. Além disso, essa concepção vai utilizar como tática o lobby político, pressionando os parlamentares - sem distinção de ideologias e partidos. As trade unions vão se contrapor a formação de um partido revolucionário, que lute contra o sistema capitalista. Com o tempo, torna-se apêndice de um partido de concepção burguesa - o Labour Party (Partido Trabalhista). Os sindicalizados são automaticamente contabilizados como filiados dessa agremiação partidária.

É preciso ter claro que a parcela aburguesada, a “aristocracia operária”, era minoritária
mesmo na Inglaterra. Apenas alguns segmentos, principalmente dos setores de ponta da economia são contemplados pelo saque imperialista. No restante, persistem as péssimas condições de trabalho e salário. Para esses, as trade unions adotam uma postura de discriminação. Cada vez mais, o sindicalismo inglês passa a representar apenas os setores aburguesados. Há uma forte tendência ao corporativismo, como os sindicatos encaminhando as reivindicações puramente profissionais dos trabalhadores dos setores mais dinâmicos da economia - em especial dos operários especializados. O sindicalismo tradeunionista inclusive se preocupa apenas com os sindicalizados, deixando o restante na marginalização. Os interesses da minoria organizada vão se contrapor aos conjuntos de classe. Predomina a defesa mesquinha dos interesses de algumas categorias de ponta, o que resulta numa maior divisão da classe.

Sob direção da corrente tradeunionista, o sindicalismo inglês - e posteriormente o
movimento sindical de outros países imperialistas - adota em vários momentos da história uma
postura nacional - chauvinista. Defende os interesses da burguesia local, a exploração dos
trabalhadores dos países dependentes. Essa característica ficará mais nítida nos períodos de
guerra - em especial as duas grandes guerras mundiais. Essa proximidade de concepção entre o patronato e os sindicalistas tradeunionistas terá como conseqüência um maior vínculo, inclusive orgânico, entre capital e trabalho. Em vários dos países onde essa concepção ganhou hegemonia, os sindicatos passaram a ter negócios empresariais, tornando-se ricas instituições.

Deu-se início ao chamado “bussiness -union” - sindicalismo de negócio. A central sindical americana vai comprar logo no início desse século, terra nas Flórida e ações de várias empresas, utilizando-se para isso das pensões dos assalariados por ela administrada.

Em síntese, pode-se afirmar que as principais características da corrente tradeunionista são
as seguintes: defesa do sistema capitalista, pragmatismo, economicismo, negação da luta de
classe, corporativismo e cupulismo. Em decorrência desse comportamento, o sindicalismo
hegemonizado por essa tendência terá sua história manchada por vários acontecimentos
negativos. Evidente que no decorrer da sua trajetória, ocorrerão situações diferenciadas - fruto de acontecimentos políticos e econômicos marcantes. No processo da II Guerra Mundial, por
exemplo, a TUC inglesa e parte do sindicalismo norte-americano, tendo a frente a CIO (Congress Industrial Organization), defende a constituição de uma frente anti - nazista - refletindo a própria postura de seus países na constituição das forças aliadas.

No entanto, o que se observa no geral é a manutenção da mesma concepção - o que resulta
em várias iniciativas contrárias aos interesses dos trabalhadores. As conseqüências da prática
tradeunionista ficam mais nítidas no estudo do sindicalismo do EUA, a principal potência
imperialista desse século. Antes do desenvolvimento industrial desse país, o sindicalismo
americano se caracteriza por uma prática de combate ao capital. Em 1866, é fundada a União
Nacional do Trabalho (National Labour Union), organizada por G. Sylvis, que dirigirá importantes greves e pedirá filiação a AIT (Associação Internacional dos Trabalhadores).

Muitos dos fundadores dos sindicatos americanos nessa época são assassinados e perseguidos pela polícia e pelas milícias privadas dos patrões - como o conhecido bando de “pinkerton”. Nesse período, a concepção anarquista terá maior força no sindicalismo americano. Ele se fará sentir inclusive na Federação Americana do Trabalho - a famosa AFL (American Federation Of Labour), fundada em 1886.

Ocorre que os EUA vão passar por um intenso processo de desenvolvimento capitalista. Já
no final do século passado, a burguesia americana disputa a hegemonia econômica com a
Inglaterra e outras potências. Aos poucos, os EUA se transformam também numa potência
imperialista - investindo contra a soberania das nações mais frágeis. Primeiro, conquistam as
antigas colônias espanholas na América central. Depois, tendo acumulado capital suficiente,
passam a dominar nações do próprio continente e de outras partes do mundo.

A conseqüência desse crescimento, do ponto de vista do sindicalismo americano, é a
constituição também de uma aristocracia operária nos EUA. Aos poucos, o movimento sindical
abandona sua tradição de luta. A concepção tradeunionista derrota a anarquista, principalmente nos sindicatos representativos dos trabalhadores dos setores de ponta da economia. Samuel Gompers, fundador da AFL, renega o seu próprio passado. Como presidente da central americana, ele participou ativamente das atividades da Associação Internacional dos Trabalhadores, a I Internacional, fundada por Marx e Engels. Ele inclusive se dizia um “marxista” e teve como conselheiro o militante político F. A. Sorge, correspondente de Karl Marx nos EUA. Com o processo de formação do império americano, muda radicalmente de concepção.

Gompers será ideólogo do Tradeunionismo nos EUA. Para ele, os sindicatos não devem
mais questionar o sistema. Pelo contrário, devem contribuir para o seu crescimento. “O papel dos sindicatos é de simples regulador da mercadoria trabalho”, afirma. Outro dirigente da central americana, John Lewis, dará definição mais precisa da visão tradeunionista: “O sindicato é parte integrante do sistema capitalista. Ele é um fenômeno capitalista tanto quanto a sociedade anônima.

Um reúne operários objetivando uma nação comum na produção e na venda; a outra agrupa
capitalistas que tem a mesma finalidade. O objetivo econômico é o mesmo para ambos: o lucro”.

O processo de burocratização do sindicalismo norte-americano é marcante. Os contratos
coletivos de trabalho são celebrados pela cúpula da AFL-CIO, sem qualquer consulta a base. O número de sindicalizados não corresponde a 1/3 da mão-de-obra. As taxas de inscrição e a
mensalidade dos sócios são altas. Os dirigentes da AFL-CIO é que designam as direções das
entidades intermediárias e locais. As assembléias são espaçadas - às vezes ocorrem anos entre
uma e outra. A corrupção campeia na direção dos principais sindicatos nacionais e na AFL-CIO. Os cargos de direção são regiamente pagos. Há também notórias vinculações, até hoje, com a máfia.

Com sua política imperialista, a AFL apoiou o envio de tropas quando do cerco contra os
revolucionários russos, na guerra civil que se estendeu de 1918 a 1922. Ela também apoiou a
invasão do Vietnã para “defender o bem-estar dos trabalhadores americanos”. A resolução de
“apoio incondicional” foi aprovada no congresso de San Francisco, em 1965. Nesse caso, chegou a orientar os sindicatos nacionais a tornarem suas sedes centros de alistamento militar.

No último período apoiou, discretamente, os contras da Nicarágua, condicionando esse apoio a mudanças na política social do governo Reagan. Em decor6encia dessa identidade com a política imperialista do governo dos EUA, o departamento de relação internacional da AFL-CIO coleciona denúncias sobre seus vínculos com a CIA. Joy Lovestone, acusado de ser agente pago da agência de espionagem, foi durante três décadas, o responsável por este departamento. A AFL-CIO também cria institutos para interferir na política de outros países, como o IADESIL - que é uma entidade tripartite, dirigida pela central sindical, o governo dos EUA e a entidade patronal Council of America.

A história do sindicalismo americano é marcada por dois momentos. Um primeiro, antes dos
EUA se transformarem numa potência imperialista, que se caracteriza por uma ação combativa. Na jornada internacional de luta pela redução da jornada para oito horas diárias, em 1886, ele terá papel de destaque. Cerca de 5 mil greves ocorreram nesse ano em torno dessa reivindicação - inclusive a greve de Chicago, que deu origem ao 1o de maio.

Depois, a partir do final do século passado, o sindicalismo passa a ser hegemonizado pela
corrente tradeunionista. Há disputa de posições. As correntes mais à esquerda, anarquistas e
socialistas, fundam em 1905 a Industrial Workers of the World (IWW), que às vésperas da primeira guerra mundial congrega mais de 2 milhões de filiados. Essa entidade é dilacerada pela disputa entre anarquistas e comunistas e, em 1912, é dissolvida pelo governo.

Quando da queda da bolsa de 29, que significou profunda depressão econômica,
trabalhadores formam sindicatos por ramo de produção - contrariando a orientação da AFL, que defendia as entidades por profissão, apenas dos trabalhadores qualificados. Através de acordo com a máfia, os burocratas sindicais garantem certa estrutura financeira e o afastamento, via gangsters, das lideranças mais combativas. Al Capone confessa, em seu julgamento, que a máfia realiza o contrabando via sindicatos e que possui um membro no comitê executivo da AFL. Fruto do acirramento da luta de classes nesse período de crise no capitalismo, surge em 38 a CIO - uma central sindical de oposição à AFL e com posições mais combativas, sob a liderança do líder mineiro John Lewis. Ela se estrutura por ramo de produção, opõe-se a discriminação racial e defende a participação política dos trabalhadores. Ela chega a ter mais de 5 milhões de aderentes.

Durante a II Guerra, alia-se aos sindicatos soviéticos na luta contra o nazi-fascismo. Já a AFL
monta nos EUA os comitês em defesa de Hitler.

O clima de guerra fria, as perseguições do governo no período do Macartismo e as disputas
internas na CIO vão enfraquecê-las, a partir da década de 40. Ela se retira da FSM (Federação Sindical Mundial) e funda, justamente com a AFL e os sindicatos dirigidos pela social-democracia, a CIOSL (Confederação Internacional das Organizações Sindicais Livres) em dezembro de 49, no congresso de Bruxelas. Em 55 é completada a fusão com a AFL.
Outro caso é o do Japão. Após a II Guerra, o país fica sob intervenção dos EUA. O
sindicalismo que era conhecido por sua prática combativa, com grande influência de
revolucionários, é violentamente reprimido. Em 46/48 ocorrem os famosos “expurgos vermelhos”, quando cerca de 12 mil sindicalistas são presos e afastados da vida sindical. Há também a introdução do pluralismo sindical, o que gerou uma fragmentação em mais de 78 mil sindicatos - muitos deles dirigidos e fundados por empresas.

Em Israel, a Histradut é o segundo maior patrão do país, cabendo ao Estado o primeiro
lugar. Ela emprega cerca de 250 mil assalariados. Sua holding, Hevrat Ovdim, possui cerca de 600 fábricas e estabelecimento comerciais. Em 85 estas empresas foram responsáveis por 25% do produto interno bruto, por 2/3 dos bens manufaturados e por 85% da produção agrícola. O bando Hapoalin, o segundo maior do país, é da central sindical. Estas empresas exploraram a mão de obra palestina, que é remunerada em cerca da metade do salário dos israelenses.

Já na Alemanha, a DGB dirige a holding BGAG, que controla várias empresas e empregava,
em 82, mais de 40 mil assalariados. O BFG, segundo informações de 71, era o maior banco do país. E a Neue Heimat é a companhia de construções urbanas da Europa.

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