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terça-feira, 22 de novembro de 2011

UNE entrevista novo presidente da OCLAE, que representa os estudantes da América Latina e Caribe

“Integração das Américas é a única via”, afirma novo presidente da OCLAE | UNE - União Nacional dos Estudantes

Cubano Reinier Limonta também fala sobre política em seu país e convoca a Jornada Continental de Lutas
Em épocas de instabilidade econômica e humana por todo o planeta, atingindo pela primeira vez regiões ricas e poderosas como a Europa e os Estados Unidos, o movimento social da América Latina defende ainda mais a integração solidária do continente para fazer frente aos efeitos colaterais do capitalismo em crise. É o que diz o estudante cubano Reinier Limonta, novo presidente da Organização Caribenha e Latino Americana de Estudantes (OCLAE), eleito no XVI Congresso da entidade (CLAE), no último mês de agosto, em Montevidéu.

Nesta entrevista ao diretor da UNE e secretário-executivo da OCLAE, Matheus Fiorentini, que mora em Cuba, Reinier afirma: “Daqui deste lado do mundo, lindo e belo como é a América Latina, entendemos que construir a integração é a única via para um novo caminho”.

Na perspectiva do movimento estudantil, essa integração já está sendo almejada. O último CLAE, realizado em agosto, no Uruguai, que contou com uma destacada bancada brasileira, tratou de temas urgentes para os jovens de muitos países do continente, como por exemplo o problema da educação pública no Chile, outro assunto desta entrevista ao site da UNE.

O estudante também comenta a situação política de Cuba atualmente, as críticas à suposta falta de liberdade no país e as preparações para a Jornada Continental de Lutas dos Estudantes da América Latina e Caribe no ano que vem.

Confira na íntegra a entrevista:

FALE UM POUCO SOBRE A SUA HISTÓRIA. QUAL É A SUA TRAJETÓRIA DE MILITÂNCIA NO MOVIMENTO ESTUDANTIL, QUAL CURSO ESTUDA E UM POUCO DE SEUS GOSTOS PESSOAIS ENQUANTO JOVEM.

Reinier Limonta (OCLAE): Comecei muito jovem na direção do Movimento Secundarista na minha província natal, primeiro na condução do meu pré-universitário (curso intermediário técnico e tecnológico) e em seguida como vice-presidente da FEEM (Federação de Estudantes de Ensino Médio) na província de Santiago de Cuba. Em agosto de 2004 fui eleito membro do Secretariado Nacional dessa organização até 2006, data em que me liberaram para começar meus estudos na Universidade. Incorporei-me então à FEU (os cubanos possuem um sistema federativo de organização estudantil de modo que cada universidade e província possui uma FEU) na Universidade do Oriente, em Santiago de Cuba, como vice-presidente e logo em 2009 me elegeram presidente dessa universidade. No período seguinte, o Conselho Nacional da FEU me aprovou como membro do Secretariado Nacional, à frente da Secretaria de Organização, cargo que ocupei até agosto próximo, quando me elegeram para representar a FEU de Cuba na presidência da OCLAE.

Gosto extraordinariamente da leitura, sobretudo a obra de Alejo Carpentier, um novelista cubano que marcou minha existência como adolescente. Logo que li “El siglo de las luces” (O século das luzes) jamais concebi da mesma forma o espaço americano que habito. Ouço musica variada, desde Ivan Lins até Silvio Rodriguez. Fascinam-me os esportes, ainda que os pratique menos do que deveria, partilho a paixão da maioria dos cubanos pelo beisebol. Estudo no último ano do Curso de Direito e sonho em ser Fiscal na minha cidade natal.

COMO ESTÁ HOJE A ORGANIZAÇÃO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL CUBANO? QUAIS SÃO AS SUAS PRINCIPAIS LUTAS?

Reinier Limonta (OCLAE): O movimento estudantil cubano é um sólido filho das lutas do nosso povo pela sua libertação e na revolução constitui um de seus bastiões mais firmes. É um movimento estudantil maduro, consolidado, que têm metas importantíssimas, uma das quais resulta em equilibrar constantemente a realidade do movimento com o pulso do tecido social. Continuar lutando na construção de uma universidade digna de seu tempo, formadora de revolucionários esforçados e capazes é o papel da FEU e da FEEM, esse processo é imprescindível.


COMO VOCÊ VÊ A ATUAÇÃO DO MOVIMENTO ESTUDANTIL NO BRASIL?

Reinier Limonta (OCLAE): O movimento estudantil brasileiro tem sido sempre, obrigatoriamente, uma referência na América Latina, não só pela sua pujança, mas pela valentia com que tem encarado seus desafios ao longo de suas mais de sete décadas de existência. Pode-se dizer que tem resistido e tem vencido.


ALGUNS CRÍTICOS DO GOVERNO CUBANO DIZEM QUE NÃO HÁ LIBERDADE NO PAÍS. ISSO É VERDADE? QUAIS SÃO AS MUDANÇAS QUE ACONTECEM EM CUBA ATUALMENTE? QUAL A SUA AVALIAÇÃO SOBRE ESSE PROCESSO OLHANDO SOB A PERSPECTIVA DA JUVENTUDE CUBANA?

Reinier Limonta (OCLAE): A grande imprensa internacional sempre pretendeu satanizar Cuba e o tema das “liberdades” tem sido muito propagandeado, ignorando deliberadamente a realidade da nossa nação. Em Cuba, a Constituição reconhece as liberdades inclusive de até três gerações e, se pela primeira vez na história como povo somos livres, o destino de Cuba agora definimos nós, os cubanos. Talvez um exemplo do que explico se reflete na discussão do projeto de linhas da política econômica e social (‘lineamientos de la política económica y social’ – projeto de mudanças econômicas e sociais aprovado no VI Congresso do Partido Comunista Cubano em abril desse ano), projeto que foi amplamente debatido e modificado por todo o povo antes da sua aprovação definitiva pelo Congresso, dando uma mostra impressionante de democracia participativa. Nós jovens somos conscientes, cabe a nós a enorme responsabilidade de continuar a construção do sonho pelo qual jazem sob nosso solo mais de 20 mil cubanos.

COMO É A SUA RELAÇÃO E DO MOVIMENTO ESTUDANTIL COM FIDEL CASTRO E O SEU IRMÃO RAUL? O QUE DESTACARIA DESSES DOIS LÍDERES?

Reinier Limonta (OCLAE): Talvez a resposta desta pergunta já foi dada pelo próprio Fidel, quando disse que na universidade havia sido revolucionário, marxista e socialista. Sua relação com o movimento estudantil se estende desde que fazia parte da FEU na escola de Direito até sua especial relação com os universitários. Fidel significa muito para qualquer cubano, com o movimento estudantil acontece o mesmo, sua confiança infinita em nós como continuadores da grande obra que é a revolução cubana porque a geração do centenário também emergiu em parte do movimento estudantil. Sobram exemplos de companheiros que deram tudo, inclusive a vida, mais novos que nós (durante os anos 30, 40 e 50 existia uma organização de estudantes do ensino primário que lutavam clandestinamente contra a Ditadura de Machado e depois Batista, eram jovens de 12, 13 anos. Hoje essa organização se chama Pioneiros e se ocupa de trabalhos sociais além de serem os responsáveis por cuidar das urnas em períodos eleitorais). Por isso estamos comprometidos como uma geração. Eu destacaria a confiança que se tem nos jovens.


VOCÊ FOI ELEITO NO XVI CONGRESSO DA OCLAE, REALIZADO EM AGOSTO, NO URUGUAI. O QUE DESTACARIA DESSE ENCONTRO? QUAIS FORAM OS PRINCIPAIS PONTOS DE CONSENSO ENTRE OS ESTUDANTES LATINO-AMERICANOS?

Reinier Limonta (OCLAE): O CLAE foi um momento importantíssimo para o Movimento Estudantil Latino americano. Ali nos demos conta, de maneira muito mais eloquente, que são maiores as coisas que nos unem do que aquelas que nos dividem. Além disso, derrubamos o velho mito de que os estudantes não propõem, somente criticam. O CLAE teve muitos espaços de construção, desde a comunicação, a ciência, a tecnologia; tudo sob o ponto de vista da integração latino americana, pensando sempre na América que há de se construir.


O MOVIMENTO ESTUDANTIL LATINO-AMERICANO SEMPRE FOI DURAMENTE CRÍTICO ÀS INJUSTIÇAS E DESIGUALDADES DO SISTEMA CAPITALISTA, QUE SE MOSTRA A CADA DIA MAIS AGONIZANTE COM A ACENTUAÇÃO DA CRISE NOS PAÍSES CENTRAIS. ATUALMENTE, ESSA INSATISFAÇÃO GEROU O MOVIMENTO “OCCUPY WALL STREET”, QUE FOI REPETIDO EM TODO O MUNDO. COMO VOCÊ ENXERGA ESSAS MOBILIZAÇÕES?

Reinier Limonta (OCLAE): Seguimos sendo críticos a um sistema bárbaro, injusto e insustentável que ameaça a própria existência da espécie humana. A crise e os movimentos de protesto que se veem ao redor do mundo são consequências de um sistema que já da sinais mais evidentes de instabilidade e isso os estudantes compreenderam bem. Agora a luta continua e temos a responsabilidade de continuar, sobretudo os mais jovens. Daqui deste lado do mundo, lindo e belo como é a América Latina, temos entendido que construir a integração é a única via para lograr que se abram as grandes avenidas por onde passe o “homem novo”, mesmo assim nos guia a convicção de que ninguém pode parar uma ideia cujo tempo chegou, e o tempo da segunda independência latino americana está aqui, esta geração de latino americanos a verá neste século.

NA AMÉRICA LATINA, VIVEMOS TAMBÉM UM MOMENTO DE INTENSAS MOBILIZAÇÕES SOCIAIS E DA JUVENTUDE, O CHILE É O MAIOR EXEMPLO. COMO A OCLAE TEM PARTICIPADO DESSAS MOBILIZAÇÕES CHILENAS E DE QUE FORMA A ENTIDADE TEM CONTRIBUÍDO PARA OUTRAS LUTAS NO CONTINENTE?

Reinier Limonta (OCLAE): A OCLAE, como plataforma de expressão do movimento estudantil latino americano, se converte em uma eficaz tribuna para as denúncias das diferentes federações, assim como uma ferramenta promotora de solidariedade ativa com as lutas do continente. Participamos como irmãos desde as manifestações no Chile até as jornadas no Uruguai, Argentina e Brasil. A OCLAE representa mais de 100 milhões de estudantes latino americanos em fóruns das Nações Unidas e outros, a partir de seu status consultivo, e contribuímos para levar a voz dos excluídos ou silenciados a estes espaços. Os encontros latino americanos por cursos são um bom exemplo da construção, por parte da OCLAE, de fóruns para elaborar propostas de caráter continental e contribuir para uma dimensão teórica da luta estudantil.

NO CHILE OS JOVENS LUTAM CONTRA UM SISTEMA DE ENSINO BASEADO NO COMÉRCIO E NO LUCRO. QUAIS AS DIFERENÇAS ENTRE ESSE MODELO E O CUBANO? PORQUE CUBA É CONSIDERADA UMA REFERÊNCIA EM EDUCAÇÃO PARA TODO O MUNDO?

Reinier Limonta (OCLAE): Em Cuba a educação não é uma mercadoria, é entendida como um direito fundamental, garantido assim pela Constituição. Portanto, os fundos que se destinam às necessidades educativas do país são realmente muitos É uma educação destinada a formar um patriota, capaz para dominar a técnica que permite interagir com a natureza e capaz pela sua função política, solidária, internacionalista. É um modelo filho das lutas do nosso povo, herdeiro dos mais nobres pedagogos cubanos e solidificado pela revolução cubana. Sem revolução seria praticamente impossível ter feito as mudanças profundas que permitiram a criação do nosso sistema educacional, dele se poderiam citar vários exemplos de êxitos, mas te digo somente o meu, que é o que mais conheço, onde tornou possível que de uma família de pobres camponeses, antes de 1959, para os nascidos na revolução tivemos todos frequentado a Universidades, cursos caríssimos, que de outra forma não seria possível cursar.


EXISTE UMA MOVIMENTAÇÃO PARA SE REALIZAR NO ANO QUE VEM A JORNADA CONTINENTAL DE LUTAS DOS ESTUDANTES LATINO AMERICANOS. QUAIS SÃO AS PAUTAS DESSA MANIFESTAÇÃO, COMO SERÃO OS PROTESTOS E DE QUE FORMA ELES VÃO OCORRER?

Reinier Limonta (OCLAE): A Jornada de Luta esta convocada para que se somem artistas, escritores, intelectuais, políticos, acadêmicos, músicos e junto a eles as mobilizações de milhares de estudantes, de maneira que criemos uma frente comum de acordo com as circunstâncias de cada nação exigindo educação pública, gratuita e de qualidade. Vai ocorrer durante todo o mês de março e a ela estamos dedicando todas nossas energias, para que seja um momento especial nesta luta por uma educação nova, libertadora, popular, o que é o mesmo que lutar por uma nova América.

Mateus Fiorentini – diretor da UNE e secretário-executivo da Organização Continental Latinoamericano e Caribenho de Estudantes(OCLAE)

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