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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

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Egípcios protestam no Cairo

Egípcios protestam no Cairo

Ricardo Alemão

Insurreições árabes enfrentam a reação e o imperialismo

Quando o tunisiano Mohammed Bouazizi ateou fogo ao próprio corpo, nem ele nem ninguém poderia prever o efeito catalisador que teria a morte do jovem mártir.

Há quase dois meses acontecem grandes mobilizações populares e viradas políticas que podem alterar o quadro regional. Podem-se caracterizar algumas destas revoltas como insurreições populares com potencial revolucionário, mas o fato é que ainda estão distantes de amadurecerem como revoluções sociais. Apesar disso, têm uma enorme importância política para a região e para a evolução da situação internacional.

As viradas políticas em curso atingem diretamente os interesses e o domínio imperialista na região, questionam as relações submissas desses países com os Estados Unidos e Israel (que podem sair desse processo seriamente derrotados), e acentuam a tendência de declínio relativo da hegemonia global estadunidense.

Condições objetivas para as revoltas populares

É importante recuperar em que contexto econômico, social e político acontecem essas insurreições populares em países árabes. Na base de toda essa revolta popular, em grande parte espontânea, estão condições objetivas de vida inaceitáveis que foram acumulando insatisfação e situações crescentemente opressivas e desesperadoras.

O cenário regional, dada a profunda crise estrutural e sistêmica do capitalismo, é de agravamento das desigualdades sociais e da pobreza, de ofensiva contra os direitos dos trabalhadores, de aumento do desemprego, de elevação do preço dos alimentos, e de proliferação da carestia e da economia informal, afetando, sobretudo, aos jovens. No caso do Egito, a juventude abarca dois terços da população, e esse fato explica em boa parte o protagonismo dos jovens nas manifestações, e a utilização, por estes, de modernas formas de comunicação via internet.

O contexto político desses países onde as labaredas da revolta vão chamuscando e queimando os regimes políticos um a um, é de regimes por um lado seculares e laicos, conquista histórica desses povos a ser preservada, mas por outro esses regimes são verdadeiras ditaduras reacionárias pró-imperialistas, com mais ou menos aparência “democrática”, com fortes aparatos policiais, militares e de inteligência, que antes conseguiam deter as faíscas da indignação popular com ações repressivas.

EUA manobram para manter regimes aliados

A posição dos EUA vem se alterando de acordo com o desenrolar dos acontecimentos. De uma posição inicial de defesa aberta dos aliados, feita em conjunto com o assustado governo israelense, os EUA passaram a defender “transições” que não comprometam a “democracia” (leia-se os interesses estadunidenses).

Os EUA, como é sabido, são mestres na arte de transformar ditaduras reacionárias que eles apoiam em “democracias”, e transmutar pela propaganda o próprio terrorismo de Estado que praticam em “luta pela liberdade”. Hillary Clinton, ao comentar a situação do Egito, disse cinicamente esperar que a eventual tomada de poder pela oposição no Egito não “abale a democracia e conduza o povo à opressão”.

O senador John Kerry, em artigo publicado no New York Times, alerta o governo Obama para que os EUA não cometam no Egito e demais países árabes o mesmo erro que cometeram no Irã em 1979 (até então o Irã era um aliado estratégico dos EUA), ficaram até o final com o regime decadente e desde esse momento são rejeitados pelo povo iraniano. Kerry propõe manobrar com “transições” e recomposições que, mesmo implicando em cedências, atendam à ira popular sem mudança de regime político. É por aí que vai se definindo a tática embutida nos pronunciamentos apreensivos de Obama e Hillary Cilnton.

O discurso de Obama no Cairo, há um ano e meio, pregando “democracia” e “direitos humanos” como mantras para reforçar e ampliar o domínio estadunidense no Oriente Médio e nos países árabes e muçulmanos, revelou-se um tiro pela culatra. Os EUA esperavam desestabilizar e derrubar regimes como os da Síria e do Irã para reconfigurar politicamente a região, e agora pouco tempo depois enfrentam sérios problemas em suas protegidas “democracias”.

Obama, no discurso do Cairo, pediu um “novo Oriente Médio”, dócil e subserviente, e está recebendo sinais de um novo Oriente Médio, mas bem diferente do que queria. Mesmo tendo muita força política e militar, felizmente os EUA não controlam tudo e os povos árabes estão nas ruas carregando bandeiras de esperança e lutando pela verdadeira mudança de regime político.

Mudanças políticas no Líbano e na Tunísia

As mudanças começaram no Líbano, com a queda do primeiro-ministro Hariri e a assunção de um novo gabinete formado por uma maioria parlamentar da qual participam forças progressistas e anti-imperialistas, com destaque para o Hezbollah. Poucos dias antes de cair, Hariri havia estado com Obama nos EUA.

Depois do martírio do jovem tunisiano, vários governos e regimes foram chamuscados pelo fogo das revoltas populares. Na Tunísia, os estudantes e jovens, sensibilizados pelo sacrifício de seu compatriota, tomaram as ruas, e somaram-se aos protestos milhares de trabalhadores, camponeses, intelectuais e a pequena burguesia urbana. Exigiam a derrubada do presidente Ben Ali, que comandava o regime submisso ao diktat da União Europeia e dos EUA.

Ben Ali passou o que restava de sua autoridade para o primeiro-ministro e escapou pelo aeroporto, abandonando o posto e o país. As mobilizações foram parcialmente vitoriosas; formou-se um governo de transição, a repressão foi vencida e conquistou-se a anistia e a legalização de todos os partidos políticos, inclusive os de esquerda e comunistas, e foram convocadas eleições para os próximos meses.

Milhões de egípcios nas ruas

O Egito torna-se o epicentro dessa onda de indignação popular. Com mais de 80 milhões de habitantes, é o país mais populoso, um dos mais importantes países em termos geopolíticos da região, e o principal aliado regional dos EUA depois de Israel, por isso recebe volumosa ajuda financeira e militar.

Milhões de egípcios estão nas ruas das principais cidades exigindo a democratização do país; a eleição de uma Constituinte livre e soberana; liberdades civis e políticas; o fim da repressão e da corrupção; medidas para fortalecer a economia nacional e gerar empregos, sobretudo para os jovens, baratear os alimentos e reduzir o custo de vida.

Diante da repressão da ditadura egípcia, que utiliza armamentos “made in USA”, bandeiras dos EUA foram queimadas simbolizando que os manifestantes querem soberania nacional e o fim da submissão do Egito aos interesses imperialistas dos EUA e de sua cumplicidade com o terrorismo sionista de Israel. O povo egípcio sintetiza suas reivindicações no fim imediato do regime do presidente Mubarak, e não parecem aceitar a solução de uma simples troca de personagens dentro do mesmo regime, que é a tática proposta pelos EUA.

Em outros países da região, principalmente em países cujos governos são aliados dos EUA e de Israel, como a Jordânia e o Iêmen, os protestos também crescem. Na Jordânia o rei Abdullah tentou antecipar-se demitindo o primeiro-ministro e colocando em seu lugar outro ainda mais conservador, e obviamente não logrou conter os manifestantes.

Solidariedade do PCdoB e de nosso povo

Não se pode ainda dizer qual será o final dessa história de heróicas rebeliões que estão em curso. O que está claro é que o sentido geral desse fogo renovador que encorajou os povos árabes a enfrentar regimes repressivos e pró-EUA e Israel, mesmo com centenas de mortos e torturados, e milhares de presos e feridos, é democrático, progressista e anti-imperialista, e merece a solidariedade do Partido Comunista do Brasil, das demais forças políticas e sociais progressistas, e de todo o povo brasileiro.


* Secretário de Relações Internacionais do PCdoB


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