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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Prêmio Nobel alerta que elevação da taxa básica para combater inflação pode elevar desemprego no Brasil

Prêmio Nobel alerta que elevação da taxa básica para combater inflação pode elevar desemprego no Brasil


Publicada em 26/01/2011 às 23h55m

Déborah Berlinck, enviada especial

DAVOS, Suíça - Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, acha, como muitos presentes em Davos, que o Brasil vai bem. Mas, em entrevista ao GLOBO, ele faz um alerta: o combate à inflação - sobretudo a que está sendo "importada" pelo aumento mundial no preço dos alimentos - não deve ser feita apenas subindo a taxa básica de juros da economia. Isso porque essa elevação vai fazer com que pobres no Brasil, que já vêm sofrendo com a alta dos preços dos alimentos, ainda percam o emprego por causa dos juros. Stiglitz prevê o fim do dólar como moeda de reserva e se mostra mordaz na crítica ao seu país: segundo ele, os EUA têm um modelo falho e inspiram pouca confiança para liderar.

O GLOBO: Há certo otimismo este ano. Algumas pessoas até apostam que a economia mundial vai voltar ao que era antes da crise. O senhor concorda com este otimismo?

JOSEPH STIGLITZ: A maioria das previsões é de que o crescimento em 2011 vai ser mais fraco que em 2010.

Tem havido problemas com previsões?

STIGLITZ: Sempre houve. Parte do problema é que a maioria das pessoas aqui (em Davos) é desproporcionalmente (representantes) de multinacionais. Estamos vivendo num mundo muito dividido, onde uma parte está indo muito bem, e outra vai mal. As pequenas e médias empresas nos Estados Unidos ainda têm problemas para obter capital e o desemprego pode chegar a 8%. De certa forma, as pessoas estão se sentindo bem porque estavam muito doentes antes.

A economia mundial não está melhor?

STIGLITZ: Está melhor, mas saiu da UTI e está agora na sala de recuperação.

Há uma mudança global, com países emergentes crescendo muito mais rápido do que os países ricos, enquanto a Europa não consegue se reerguer. Como o senhor vê a evolução disso?

STIGLITZ: Para mim, é o que há de mais excitante. Há um novo equilíbrio do poder geopolítico, mas que também é uma das fontes de incerteza e inquietação. O G-7 (grupo das sete mais ricas economias) inspirava certo conforto. A comunidade global se reunia (no G-7) e o sentimento de todos era o de que no caso de problema, ele poderia ser resolvido e os EUA exercitariam sua influência e liderança. Agora, há muito pouca confiança na liderança dos Estados Unidos.

E a China também não quer assumir esta liderança, não?

STIGLITZ: O modelo americano se mostrou falho. A influência das instituições financeiras ainda é muito grande politicamente e isso está fazendo diminuir a confiança na democracia. Mesmo o modelo político foi desafiado. (Nos EUA) milhões de cidadãos perderam suas casas e você não fez nada em relação a isso. E mesmo quando pessoas estão perdendo o emprego, debate-se se elas devem ter seguro desemprego. Acho que o respeito pelo modelo americano diminuiu.

O fato de Brasil, Índia e China estarem obtendo maior parte do bolo não é uma boa coisa?

STIGLITZ: É muito positivo. Vai se criar um mundo mais estável, mas o sujeito que era o líder ou o brutamonte - dependendo do prisma em que você vê - não está muito satisfeito (os EUA).

Quem está liderando, então?

STIGLITZ Ninguém. Talvez seja uma boa coisa não ter líder. Mas há uma ansiedade por conta disso.

Isso terá impacto na economia mundial?

STIGLITZ: Indiretamente. Vemos isso claramente na Europa, onde todo mundo reconhece que há muitos problemas financeiros. Há esperança que eles (os europeus) resolvam, mas não há 100% de confiança. Está claro que Estados Unidos e China estão numa batalha cambial. Não importa de que lado você esteja, este não é um conflito saudável.

Mas China e EUA também não têm interesse em atirar em cada um, porque um depende do outro. Não é um lado positivo?

STIGLITZ: É também um sinal de que não há cooperação. Suas visões do mundo são muito diferentes. Outro exemplo de reação é que o Brasil e outros países adotaram medidas para se protegerem (da guerra cambial) e estão criticando fortemente a conduta da política monetária americana. Isso não acontecia antes. Quando os EUA subiram taxas de juros em 1980, isso causou um efeito devastador em vocês, mas vocês eram vitimas silenciosas. Agora, vocês estão gritando e dizendo: vamos comandar nossas economias e não podemos mais contar com vocês (potências) se não levarem em consideração as necessidades do mundo.

No longo prazo, o que isso pode significar para o dólar?

STIGLITZ: Isso vai dar ímpeto para o fim do sistema de reservas dependente do dólar.

O presidente francês Nicolas Sarkozy, que preside o G-20 (grupo das maiores economias do planeta) disse esta semana que o dólar vai continuar predominante...

STIGLITZ:

Líderes políticos têm esta tarefa difícil: (de um lado) é preciso passar de um sistema de moeda única (dólar) para um novo sistema, mas ao mesmo tempo, não se quer instabilidade neste sistema. No futuro próximo, o dólar vai permanecer predominante, mas estamos caminhando para a transição para um novo sistema.

Um novo sistema em que o euro também não vai prevalecer, não?

STIGLITZ:

Eu gostaria de ter uma moeda para reserva mundial: dividir (o bolo) entre euro e dólar pode ser até mais instável, porque quando alguém achar que o euro está mal, vai correr para comprar dólar. Espero que Sarkozy não tenha abandonado a agenda de uma moeda global de reservas. Acho que ele só estava tentando reassegurar o mercado porque uma reforma desta magnitude não vai acontecer da noite para o dia.

A nova presidente do Brasil herdou uma economia superaquecida. Como o senhor vê o risco de inflação no país?

STIGLITZ: As pessoas têm que tomar cuidado para distinguir as fontes de inflação.Tem inflação importada, por exemplo, devido ao aumento dos preços dos alimentos ou energia. Isso tem que ser levado em consideração, mas não pense que se pode lidar com isso simplesmente através da elevação da taxa de juros. O pobre vai sofrer com o aumento dos preços (dos alimentos). Fazê-lo perder o emprego (como consequência do aumento de juros) não vai resolver o problema da sociedade.

O que fazer com a economia superaquecida?

STIGLITZ: Você precisa tratar nas áreas onde ela está aquecida.

O governo está taxando o fluxo de capital.

STIGLITZ: Isso faz sentido.

Como o senhor vê estes países emergentes no longo prazo? Na China, por exemplo, já se fala em bolha no mercado imobiliário.

STIGLITZ: Com todo este capital entrando, há o risco de uma bolha. E a grande lição desta crise é que os mercados não se autocorrigem nem são estáveis. Acho que os países emergentes conseguem passar bem por isso, e o Brasil já fez um bom trabalho na gestão (destes desequilibrios), com a estabilização da economia. Mas ainda há problemas de desemprego. A questão é: como se livrar das áreas superaquecidas, e ao mesmo tempo, expandir a economia nas áreas em que precisa. O que vocês devem fazer é pegar o dinheiro (que estão ganhando) com a alto preço das commodities e investir na parte da economia que não está superaquecida e onde há desemprego. Tem que usar isso para diversificar mais.

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